Renata Duca

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Síndrome do Pânico: o que eu fiz durante a minha crise

Muitas pessoas tem crise de Síndrome do Pânico, não sabem reconhecer se é ou se não é, não contam pra ninguém, vivem isso sozinhas ou as vezes mal compreendidas por quem as ouve. Ter uma crise como essa não se escolhe, e, só quem viveu sabe. O intuito deste post não é técnico, mas um relato que compartilha a minha experiência e, quem sabe, incentivar você a compartilhar a sua e se sentir menos sozinho.

O transtorno, que atinge cerca de 2% da população brasileira, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é caracterizado por crises recorrentes de pânico. Os sintomas incluem taquicardia, suores, tremores, falta de ar, dor no peito, náusea, medo de morrer ou de perder o controle, e pode ser confundido com problemas cardíacos ou Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Eu nunca tinha tido… nada parecido… nem ansiedade…nem nada. Algumas coisas a gente só sabe quando passa.

Meu objetivo é de partilhar experiência, ter conexão, troca e humanidade, muito mais do que qualquer aprendizado informativo ou técnico.

Eu estava muito estressada… é verdade. São muitas coisas na vida pra gente resolver e pensar…

E, eu estava cansada… bem cansada… estava ansiosa também… não a ponto de me descontrolar, nem a ponto de comer compulsivamente, por exemplo… mas estava com dificuldade de respirar fundo, de me acalmar.

Segui forte; como sempre fui, segurando a onda… entendendo aquelas sensações que me acompanhavam e me deixavam instável. Percebi que também estava irritada.

 No momento da crise eu comecei a sentir um medo muito grande. Medo mesmo. É quase um horror. É como ver algo muito chocante ou assustador bem de perto

A síndrome do pânico insere várias cenas, que posso chamar de imagens, amendrontadoras, que crescem na sua visão sem a sua permissão. Você passa por elas. As experiencia.

Além de muito medo…. Um medo que beira o desespero… eu me tremia… era como se meu corpo todo formigasse…. Eu estava de olhos arregalados… muito cansada, exausta, mas era impossível de fechar os olhos e dormir

Parece que você cai numa espécie de transe. Esse transe não te deixa… é como usar alguma substância química, seja medicamentosa ou não. O efeito só acaba quando acaba.

Então eu não tinha saída. Nada faria aquilo parar, como nada de fato fez.

Eu estava sozinha, era meia noite, e, durou da meia noite às sete da manhã. 7 horas em pânico. 7 horas num transe que não passa.

“Você não esta exagerando? Você de alguma maneira provocou aquilo?”

Não. Tenho uma tendência a ser bem forte. Não tomo medicamento, aguento os trancos psicológicos na raça mesmo, no couro, e, desta vez, era real.

Não liguei pra ninguém. Não quis incomodar.

Como tenho experiência e destreza com processos psicológicos e com transe… achei que daria conta sozinha… e dei. Mas é realmente difícil e você fica muito “passada” quando sai da crise. É preciso um colo, um acalanto.

Próximo das 7 da manhã, falei com uma pessoa e foi muito bom. Um acolhimento que me acalmou. Um lugar onde eu pude respirar… junto… ainda que pelo telefone.

Consegui até expor alguns medos que estava sentindo. A pessoa do outro lado da linha, conseguiu ver que eu não estava exagerando; logo eu, tão forte, naquele estado, com medo daquele jeito, desesperada.

E isso foi muito bom. Fiquei muito exausta, dormi por 4 horas por exaustão, mas não consegui descansar; ainda estava muito ativa… com muito medo…. Sei que numa síndrome como essas, o que acontece é que nosso inconsciente fica muito ativado e que, parte dessa energia que está pairando, precisa “descer”, se tornar física, materializar. Nesse mesmo dia, eu terminei alguns projetos meus que estavam parados por exemplo. Comecei a produzir tudo aquilo que estava pendente.

Na continuação deste mesmo dia, eu tive durante 4 horas uma nova síndrome, de novo à meia noite, o horário que costume me deitar e durou até as 4 da manhã. Dessa vez, eu estava menos desesperada, mas continuava com muito medo, olho arregalado, como se estivesse enxergando uma realidade nunca antes vista; como se coisas da minha vida ficassem escancaradas pra mim de uma vez por todas e cabia à mim, resolvê-las, dando fim a algumas e tratando outras.

Posso dizer que com minha experiência em transe, pude aproveitar os dias da síndrome. Não foi gostoso. Nem desejo pra ninguém, mas ví de perto e entendi coisas de um jeito escancarado; quando isso acontece, a gente não pode voltar atrás. Não pode permitir que certos padrões se repitam.

A vida me botando medo mesmo e falando: é isso! Vai ter que olhar pra isso agora.

Continuei meu trabalho nesse mesmo dia, não parei de trabalhar um dia sequer. Consegui manter meu equilíbrio, um grande feito! Consegui dar resultado pros meus clientes e pra mim mesma, no trabalho e aproveitando os ensinamentos das crises de pânico.

Poder contar com o apoio da minha família depois me fez um bem enorme. Contei apenas para uma amiga o que tinha acontecido.

Afinal, é difícil as pessoas terem escuta. Também é difícil que as pessoas tenham cuidado ao nos ouvir, ao invés de nos julgar, que as pessoas tenham dimensão dos nossos problemas ao invés de falar “ai vai ficar tudo bem amiga…” gente… as vezes não vai.

O valoroso desse momento é quando alguém segura a sua mão. Mesmo sem saber o que vai acontecer… é uma pessoa que está ao seu lado.

Se você passou por isso, você sabe do que estou falando e de como é aterrorizante.

Se você não passou por isso, e, alguém próximo de você passar… acolha… esteja do lado… empreste sua mão, seu colo e sua força por alguns instantes… isso acalma… mesmo.